segunda-feira, 25 de junho de 2012

A morte do futebol escocês

Charles Green.

Pode parecer um título exagerado, mas infelizmente não é. Nesta segunda-feira (25), Aberdeen, Inverness e St Johnstone confirmaram o "não" a adesão de um refundado Rangers à SPL. Agora, o clube de Ibrox precisará enviar um pedido à SFL para que possa disputar a Third Division (4a. divisão).

Este, sem dúvida, foi o fim mais triste possível para a terrível história do Rangers. História esta que não começou há pouco tempo, mas sim há anos. É fácil falar que Craig White foi um canalha. Ele realmente foi, mas não é o único responsável. Durante anos os Hoops gastaram mais do que poderiam pagar e estima-se que suas dívidas tenham ultrapassado a casa de 120 milhões de libras, contando os 49 milhões de impostos devidos à HMRC (alfândega britânica) e ao Bank of Scotland.

Por isso, a HMRC forçou Sir David Murray, acionista majoritário do clube, a vender os 85% das ações que lhe eram correspondentes. Como ele não teve escolha, o fez. O comprador foi o empresário escocês Craig White, inicialmente visto como herói. Sua estratégia para tentar quitar parte das dívidas foi usar os 18 milhões de libras das entradas (vindos da empresa Ticketus) para pagar o Bank of Scotland. O problema é que o dinheiro acabou e a HMRC seguiu pressionando.

Com tais acontecimentos ele não viu outra saída e, em fevereiro, colocou o clube em administração. Logo que isso aconteceu veio a dedução automática de 10 pontos, praticamente decretando o título do arquirrival Celtic. Somente quando a empresa Duff and Phelps assumiu o controle de Ibrox é que "levantaram a ficha" de White e descobriram que ele não poderia ter posse de qualquer empresa na Grã-Bretanha por um período de 10 anos, graças a escândalos passados. A pergunta é a seguinte: como, na ocasião da venda, a SPL e a SFA puderam aprovar tal transição? Sir David Murray não tinha a obrigação de conhecer a idoneidade de White, mas a entidade máxima do futebol escocês sim!

Nos meses que restaram de temporada a SPL foi esquecida e todos, logicamente, se concentraram na salvação do Rangers. Vários consórcios se candidataram e apresentaram ofertas formais para a aquisição do clube, destaque para o ex-diretor Paul Murray, que saiu da diretoria junto com Sir David Murray. No entanto, foi o empresário Charles Green que, por 5,5 milhões de libras, concluiu a aquisição. Mas por que este valor? Basicamente para pagar os serviços de manutenção de Ibrox, a Duff and Phelps e demais despesas.

Mas até este momento o histórico Rangers Football Club ainda existia. Estava à beira da falência, mas não havia caído. O senhor Green se concentrou em tentar renegociar a dívida, mas a HMRC não permitiu. Portanto, a alternativa que restou foi a formação de uma "NewCo", ou seja, uma nova empresa. Em outras palavras, o verdadeiro Rangers morreu e foi refundado.

No entanto, o clube não poderia disputar a Scottish Premier League diretamente. A troca de um por outro só seria permitida se ao menos 8, dos 12 clubes da SPL, votassem a favor. Dundee United, Hearts e Hibernian foram os primeiros a oporem-se. Depois, foi a vez de St Johnstone, Inverness CT e, finalmente, Aberdeen negarem a permissão ao Novo Rangers.

Com a honestidade falando mais alto, esta decisão foi correta. Uma entidade do tamanho do Rangers não poderia fazer o que fez e passar impune, ainda que a responsabilidade seja da cúpula de seu conselho. O problema é que tal medida deve fazer o futebol escocês mergulhar em águas ainda mais obscuras. Se nos últimos anos o nível do campeonato nacional já foi -com razão- muito criticado, imaginem só agora.

Durante a temporada os olhos do mundo só se voltam para a Escócia quando jogam Celtic e Rangers. Não há quem possa contestar isso. Logicamente existem fãs do futebol escocês, que acompanham a liga, em si, com mais afinco. Mas o Old Firm  é tudo no país. Economicamente falando, o dinheiro que o clássico gerava vai fazer muita falta. Os mesmos clubes que votaram contra levarão menos de três meses para se arrepender. Escrevam isso.

O resultado ainda não é oficial. Uma reunião será realizada na próxima quinta-feira (28) mas, cá entre nós, por que raios os clubes que tornaram públicas suas decisões de recusar o novo Rangers na SPL mudariam seus votos?

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